Muito bom poder falar de algo bacana em tempos atuais, momento tão conturbado. Há duas semanas conheci mais uma mulher admirável! Ela tem uma fazenda na serra fluminense, com uma casa à beira de um rio e se dedica a um projeto lindo, Viver Solto, que eu não sabia existir. Antes de conhecer sua história já fiquei encantada com sua energia contagiante.
Regina Tavares é dinâmica, cheia de vitalidade e muito bonita com seus cabelos brancos assumidos! Quando ficou viúva foi morar nessa fazenda onde antes só passava finais de semana e, ao lado do marido, tocava a criação de cavalos. Ela tem três filhas que chama de “minhas meninas” e hoje se dedica integralmente ao projeto Viver Solto que tanto me encantou.
A ideia nasceu há dois anos numa conversa com sua amiga Patricia Vilella, que perguntou o que ela fazia do antigo galinheiro. “Coloco os adubos da fazenda”, respondeu, e ouviu uma das mais estimulantes propostas de sua vida: transformar aquele espaço em um viveiro para soltura de pássaros. Ela também confessa que não sabia do que se tratava.
A burocracia para um projeto como este faz jus ao nome, parece ser bastante complicada. A pessoa deve se inscrever no Ibama, que faz uma vistoria na propriedade e começa a trazer pássaros para serem reabilitados antes de voarem livremente pela Mata Atlântica. Ela quis logo saber como poderia agilizar a ideia. Junto com Patricia lembrou da amiga, Loreta Figueira – que trabalhou durante muitos anos no Ibama, em São Paulo -, e que conhecia os caminhos burocráticos. Loreta abraçou a causa na hora.
Não foi nada fácil vencer esta barreira burocrática, mas as três parceiras foram em frente. Não basta apenas dinheiro para fazer um viveiro de soltura, é preciso passar por várias etapas complexas. Demorou aproximadamente dois anos para que elas conseguissem ver seu projeto realizado.
Viver Solto funciona há um ano e em 2017 elas soltaram 1200 pássaros. Quando conseguiram a autorização receberam 400 pássaros de uma só vez. Elas bancam totalmente o projeto com o maior amor e prazer. E até preferem que seja assim porque para torná-lo oficial teriam que enfrentar mais burocracia e nenhuma delas está disposta.
Regina dividiu o galinheiro, que era grande, ao meio e colocou uma porta que une os dois lados. Quando chegam muitos pássaros, ela deixa a porta aberta. Eles são apreendidos em rinhas, concursos de canto ou no tráfico de pássaros, porque existem alguns bastante valiosos, e chegam com muitos ferimentos.
Fiquei curiosa para saber como se estabelece a comunicação entre os pássaros. Regina ri. “Eles brigam muito!!! Depois que se entendem, que se dividem em alas aí começam a se respeitar. Tanto que a comida tem que ser separada para todos comerem bem e sem brigas…”
Eles ficam em torno de um mês no viveiro e quando estão capacitados para voar são soltos. Regina conta que alguns vão ficando lá e não querem mais ir embora. Muitos deles saem durante o dia e voltam para o viveiro à tarde, porque acham que ali é a casa deles, como uma sabiá que está sempre com ela.
Eu que vivo na cidade acabo achando que existem pessoas que cuidam de cachorros e gatos, porque esses animais domésticos estão mais próximos da nossa realidade. Interessante saber que quem se interessa por natureza e tem tempo, disponibilidade e amor pode escolher junto ao Ibama alguns projetos que possam trazer alegria e contribuir bastante com a nossa natureza.
Como dizia no começo do post é muito gostoso e reconfortante saber que isso também existe. A gente, ultimamente, só ouve notícias ruins como se nós, humanos, não tivéssemos mais a capacidade de desenvolver, de alguma forma, beleza, saúde e bem querer. Me deu muita vontade de contar essa história e incentivar outras pessoas a reinventarem suas vidas.